the NachtKabarett

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All Writing & Content © Nick Kushner Unless Noted Otherwise
In collaboration with Gilles R. Maurice
Translation by: Heather Quick

Enquanto eu estive procurando expressar quem eu sou com violência, o "The Golden Age of Grotesque" marca um estágio superior, aquele que vem depois da luta orquestrada dos meus álbuns anteriores. Meu trabalho está aqui para dizer: "Aqui está o que eu represento, aqui está meu conceito, aqui está minha Disneylândia."
Marilyn Manson, D-Side, Maio de 2003 (Traduzido do Francês)
Direita e Esquerda: Insígnia da Death’s Head usada pela elite Nazista Shutzstaffel (SS) e o logo do Mickey Mouse Club da Disney. Centro: Imagem da colaboração do Manson com o Helnwein, que foi revelada em um vídeo no Youtube que ele postou em 2009. Obrigado ao MaryWhore por fazer esse vídeo surgir no fórum Babalon.
"Hoje em dia eu preferiria muito mais ser o presidente do
Mickey Mouse Club do que entrar para a política."
Marilyn Manson, revista Q, Abril de 2004

 

Concluindo perfeitamente a colaboração do Marilyn Manson com o Gottfried Helnwein em uma série de retratos intitulada "The Golden Age", esse logo notavelmente satírico apareceu em duas versões, uma preta e branca com um círculo vermelho e uma branca e preta, respectivamente no pódium do Manson durante a turnê Grotesk Burlesk e no livro da turnê ilustrando essa série de shows. Enquanto o comum Totenkopf branco (ou Death's Head) foi substituído pelo preto, imitando as estéticas do Manson na era com a maquiagem blackface e lábios brancos e órbitas oculares, o círculo vermelho foi pego emprestado do logo do Mickey Mouse Club em uma perfeita continuação com o logo Shock do Manson em 1996. O resultado expressa perfeitamente as dicotomias empregadas pelo Manson durante esse período, entre a juventude Nazista e os Swing Kids, a juventude Mickey Mouse e jovens Góticos, expressionismo e fascismo como um Dadaísta dos dias modernos operaria, eventualmente transferindo uma forte declaração política sobre o fascismo na América e sua indústria do entretenimento (e também sendo nesse sentido um precursor do logo de cifrão que o Manson usaria mais tarde).

A forte analogia entre as iniciais do nosso rockstar e aquele do amado Rato da celulóide está, indubitavelmente, brincando com as percepções do espectador em um nível subconsciente...

"Inspire, expire, vamos todos saudar"
É um depravado mundo novo/Afinal de contas
Ka-Boom Ka-Boom

Esquerda: "I'm not a slave"; performance de “The Fight Song” com Manson maquiado com a blackface usando orelhas 'Manson Mouse' em cima de um emblema Death’s Head na Grotesk Burlesk. Uma visão própria do Manson sobre comícios Nurembergs que reúne a dicotomia dos polares opostos do expressionismo e fascismo.

Direita: Página do livro da turnê Grotesk Burlesk, com uma versão branca do mesmo logo, ecoando as fotografias esbranquiçadas ou com o blackface de sua colaboração com o Helnwein. O logo pode, dessa forma, ser visto como literamente representando o rosto do Manson, muito como o logo Omëga durante o "Mechanical Animals".

Toda a arte que fizemos tem muitos níveis, mas em relação ao Mickey... sua imagem também foi considerada "degenerada" pelo governo fascista na [Alemanha dos anos 1930]. Na América ele representou muito mais. Isso são peças da imaginação, sem mais, sem menos.
Marilyn Manson
Chaplin em "The Great Dictator" (NT: "O Grande Ditador" em Português), com a cruz dupla da Tomânia substituindo a Suástica do Hitler. Entre todas as referências ao fascismo feitas pelo Manson, esse paralelo continua sendo o mais impressivo no contexto do álbum, dada as dimensões 'degenaradas' do Mickey Mouse e as personagens de Chaplin, ambos expressando o anti-fascismo através de paródias em trabalhos cinematográficos, além de coexistirem no mesmo período ou zeitgeist. Direita: "É um depravado mundo novo, afinal de contas", trecho originalmente da música "Ka-Boom Ka-Boom", introduzindo as performances no estilo Chaplin da "The Fight Song" no Ozzfest de 2003. Combinando a depravação da atmosfera Weimar em "Brave New World" de Aldous Huxley, e a música horripilante da atração "It's a Small World (after all)" da Disney, que também é citada no Diário.
Esses são os valores "tradicionais" que construíram paredes morais "protetoras" ao redor do mundo das nossas crianças.
E é, sem dúvida, um mundo pequeno afinal de contas.
Marilyn Manson, 'Putting Holes in Happiness'
MarilynManson.com, 03/03/2003

Tematicamente, a retratação irônica de Manson sobre o fascismo e imagem Nazista é remanescente do filme altamente controverso de 1940 'The Great Dictator' de Charlie Chaplin, no qual ele ridiculariza Hitler e o partido Nazista por sátira, usando comédia como um meio de avisar o mundo dos perigos reais do fascismo nos últimos 30 anos. E Manson fez num sentido muito semelhante considerando os paralelos da repressão hoje em dia, ambos pela religião e governo, mas também para condenar a imposição da auto-censura que é forçada e inserida na sociedade hoje em dia. Para mais sobre as referências do Manson ao blackface, Chaplin, os comícios Nurembergs e a Death’s Head, por favor visite nossa seção Arte “Degenerada” e Fascismo.

Esquerda: Adolf Eichmann, líder do departamento da Gestapo para assuntos Judaicos. Centro: Fotografia do Manson com o quepe de orelhas de rato e o distintivo SS Death's Head, de sua colaboração com Helnwein, embora só tenha surgido em 2006, na introdução Phantasmagórica do MarilynManson.com. Os atributos animais e dentes de metal são aquelas de uma Besta do Apocalipse. Direita: Manson com o quepe SS, menos os acessórios Nazistas.
"Bem, há uma música chamada "Doll-Dagga Buzz-Buzz Ziggety-Zag" e todos na banda tocaram bateria nessa música de uma vez porque é muito como uma batida big-band. E eu quis combinar um pouco de uma banda marcial - o Mickey Mouse Club misturado com comícios Nurembergs, todo o espírito de sublevação política..."
Marilyn Manson, Abril de 2003
Esquerda: Distintivos Totenkopf/Death's Head geralmente colocados em capacetes SS (ou bordados em insígnias), adotado pelos Nazistas em sua tradição histórica em usá-la por seus próprios propósitos, o levando a deixar marcado como um estígma que continuou até os dias de hoje. Direita: Palheta do John 5 durante a turnê Grotesk Burlesk.
Sou o dono do clube/E eu me livrei das minhas orelhas de rato
Ka-Boom Ka-Boom
Colaboração entre Helnwein e Manson para o "The Golden Age of Grotesque", originalmente intencionado a ser a capa e contracapa do disco, com a orelha cortada para evitar violação de direitos autorais. A dicotomia do Preto e Branco, Marilyn e Manson, América e Europa, comédia Blackface e Pierrot da Commedia dell'Arte (note que a namorada do Pierrot responde pelo nome de "Columbine"...)
Não fui autorizado a colocar os quadros na capa do disco! Nossa previsão era não criar um encarte para o álbum. Queríamos criar uma colaboração e, a partir dali, veio a ideia de usá-la como capa, porque não consideramos o "The Golden Age of Grotesque" apenas como um álbum. Um álbum é muito limitado com censura, limitações de tempo e espaço. A intenção era que as minhas imagens brancas e pretas com as orelhas fossem a capa e contracapa.

Sinto que a preta é bem Americana, e a branca é bem Europeia. A preta é um tanto mais má, e branca é mais inocente. Na verdade eu acho que, visualmente, a branca me deixa mais mau. É como um Pierrot. Sabe, Americano vs. Europeu. Todo o tempo que eu fiz isso, acho que ninguém mencionou a blackface e a relevância dela. A relevância é a exploração de um performer, ou um artista. O Mickey Mouse foi invocativo por causa disso, e muitas pessoas temeram um processo vindo da Disney, mas nem na foto inteira as orelhas aparecem. O chapéu que eu acabei fazendo é bem parecido, mas é assimétrico, porque eu tenho um problema com simetria. Gosto que as coisas sejam diferentes dos dois lados, como o meu cérebro. O branco, do outro lado, é como a criança.
Entrevista com o Marilyn Manson para a INROCK
Por Evie Sullivan, Julho de 2004
Esquerda e direita: Outros dois exemplos dos trabalhos fotográficos do Helnwein para a série "The Golden Age", todos dos quais ainda podem ser vistos em seu website. Centro: Screenshot do vídeo da "This is the New Shit", mostrando a gigante réplica inflável da cabeça com o blackface e orelhas de rato do Manson que foi usada durante a turnê Grotesk Burlesk.
Tudo que posso dizer sobre isso é que estou feliz que isso faz a coleção de imagens que me representa da melhor maneira possível. Acho que é só uma amostra do que Gottfried e eu podemos fazer juntos. E acho que foi mais apreciado e compreendido por sua grande qualidade e grande impacto político.

Como eu disse, as pessoas podem ver isso da maneira que elas quiserem. As pessoas levam isso tão a sério que poderia ser na Europa, particularmente na França e em Paris, e no Japão, porque eles viram meu comentário sobre a América. Eles me viram tanto quanto as pessoas veem o Mickey Mouse como um símbolo Americano. Você cobre sua boca com blackface, como realmente representa uma franquia, um enrequecimento, e a criação escrava do entretenimento, isso não é nem humano. Isso é um animal, em cima de um podium que é exagerado - uma forma cômica de fascismo. Soa muito Americano para mim. Soa como um McLanche Feliz. Isso para não dizer que é o único jeito que você precisa para olhar para isso.
Entrevista com o Marilyn Manson para a INROCK
Por Evie Sullivan, Julho de 2004
Fotos do Marilyn Manson durante a turnê mundial Grotesk Burlesk, usando blackface e orelhas assimétricas do Mickey Mouse. Esquerda: Foto por Bob Mussel, MarilynManson.com. Direita: Da Biografia do Manson exibida pelo A&E em 2010.
"É onde o teatro sai do palco e vira uma realidade própria. É o comício Nuremberg encontrando o Walt Disney chapado. E tirado do significado religioso e político, vira sua própria religião e política."
Marilyn Manson para o Las Vegas Review Journal, Julho de 2003
Esquerda: Manson na frente da Catedral de Berlin com "May Belfort/Violet Hilton" e "May Milton/Daisy Hilton" para a Grotesk Burlesk. Direita: Em Berlin com Gottfried Helnwein durante outra performance em Berlin, também pegando emprestado muito do universo do artista Austríaco com as cabeças enfaixadas.
"Foi o tempo para o Grotesk Burlesk e dúzias de camundongos correndo do Jardim de Infância. Seus órgãos políticos tinham que ser removidos e os colocamos em formação, criando um 'ponto de interrogação' metafórico."
Diário do Marilyn Manson
MarilynManson.com, 21/04/2003
Esquerda: Manson, Helnwein e Dita em 2004, posando em frente a um quadro do Helwein feito em 2001, "Midnight Mickey". Direita: "Faunadestia", aquarela feita pelo Manson.
Todo artista tem que fazer o Mickey [Mouse] como um ritual de passagem. Essa é a minha interpretação. O título é uma referência à fobia de animais esfregando suas genitais. Acho que Andy Warhol disse que a América sofre de um fetiche com roedores. Eu gostei disso.
Marilyn Manson, sobre seu quadro "Faunadestia"
MTV.com, Setembro de 2002.
Esquerda: Outra foto da colaboração. Centro: auto-desenho do Manson feito em 2003. Direita: "Anaclitism", Pernod e aquarela, por Marilyn Manson. Uma dupla referência ao Van Gogh e Mickey, bem como uma possível dica ao fato de que sua orelha de rato teve que ser parcialmente cortada em respeito às leis de direitos autorais.
Os demônios são garotas com a orelha cortada de Van Gogh
The Golden Age of Grotesque

Esquerda: Uma continuação do tema no recente videoclipe da música "Arma-Goddamn-Motherfuckin'-Geddon", onde uma multidão de garotas com o blackface, orelhas de rato e biquínis com a bandeira Americana batem no Manson com placas de protesto brancas e em branco. Além de preservar a assimetria, a orelha cortada tem relação direta com a própria orelha de rato do Manson nas fotos "The Golden Age" que tiveram que ser cortadas por motivos de direitos autorais e, dessa forma, perfeitamente implementa as inúmeras referências ao tema de censura que aparecem no vídeo.

Direita: Manson posando em frente a um trabalho sem título feito em 2005 por Helnwein imortalizando uma cena de "Der Rosenkavalier" (NT: "O Cavaleiro da Rosa" em Português) de Richard Strauss, o palco e figurinos que foram desenhados por ele no mesmo ano, com uma re-utilização literal do conceito do logo.

 

HnH: Um de seus quadros mais famosos é um retrato bem assustador do Mickey Mouse. Por que você decidiu reusar a ideia fotografando o Manson de uma forma semelhante para a capa do álbum (que foi censurada desde então)?

GOTTFRIED HELNWEIN: Tenho frequentemente manipulado a imagem do Mickey Mouse e Pato Donald porque sempre gostei dessa cultura trivial. Quadrinhos fazem parte das minhas raízes e eu os considero trabalhos de arte completos. Como um ícone, o Mickey possui aspectos diferentes. É uma criação maravilhosa que virou algo assustador. Uma coisa comercial grande, e um símbolo de multinacionais. E o Mickey tem um lado fofo, eventualmente bem artificial quando você como foi usado pelo Manson (risos)! E então, como o Mickey é também um personagem conhecido no mundo todo, é tentador brincar com isso.

Gottfried Helnwein entrevistado pela Hard N' Heavy, Maio de 2003
(Traduzido do Francês)

 

Direita: "Der Ring des Nibelungen," 2006. Palco e figurinos por Gottfried Helnwein, incluindo uma projeção da propaganda do desenho "Private Pluto" da Disney em 1943. Esquerda: "Der Ring des Nibelungen, Part II", 2008: Dessa vez, Helnwein usa imagens de outro desenho da Disney da época da guerra, muito mais controverso, "Der Fuehrer's Face", também de 1943, em que o Pato Donald é capturado em seu pesadelo em um país fascista fictício chamado Nutziland, onde é feita uma lavagem cerebral nele e ele é escravizado em uma fábrica de mísseis antes de ficar louco, com acentos do filme "Modern Times" do Chaplin. Esse exemplar único de animação, que permaneceu banido por um longo tempo de ser lançado, e ainda está na TV, revela outra relação intrínseca entre a imagem da Disney e o Nazismo na cultura popular.

Helnwein, Manson, & Mickey Mouse...

Helnwein: "Ele é um ícone que todos no planeta conheceriam. Ele virou uma identidade associada. Você olha para o Manson como o Mickey Mouse, e é o sonho Americano que virou um pesadelo." Os retratos do Mickey são apenas uma pequena parte de uma coleção maior de imagens debilitadas que Manson irá incorporar em seu palco na mundial "Grotesk Burlesk". "As corporações, a mídia, eles irão nos dizer que estão chocados com imagens como essas," Helnwein diz. "Bem, é o mundo que está chocando pessoas como eu e o Manson. Não há liberdade. Há censura. Está sendo constantemente dito como você deve se comportar. O que Manson e eu temos em comum é o fato de que não aceitamos isso. Essas imagens representam nossa luta contra."

Notícia do MarilynManson.com
[postado em 07/09/2003, E.U.A]

 

Esquerda: Screenshot do vídeo "Doppelherz", que anunciou muitos dos temas e estéticas da era The Golden Age of Grotesque. Direita: "Ginger tunes iron currycomb", uma das fotografias reveladas no Diário online em um último post em 2004 anunciando o álbum 'Best Of'.

Eu construí algo que acho que representa uma sátira do totalitarismo e controle e restrição da arte e conformidade, que se deteriora para o grotesco burlesco degenerado. E para, finalmente, a deterioração infantil definitiva. E é por isso que eu usei simbolismo como a Disneylândia. Começar com algo como Nuremberg e acabar como algo como a Disney te leva a uma jornada que representa tudo que eu tenho a dizer nesse disco. E, de alguma forma, aqueles dois podem ser tão assustadores como um outro se você olhar ao redor. Porque a cultura Americana pode ser controlada pelo seu próprio senso de fascismo auto-imposto: Desejo de encaixar. Isso é uma forma de escravidão.

Marilyn Manson para Floridian, Agosto de 2003